site stats Blog da Scarlet: Resumindo...

Resumindo...

A� escrevi um poema em Porto Alegre e diziam que eu era melhor que o Manuel Bandeira. Eu sabia que n�o era. Escrevia outro e diziam que eu era melhor que o Drummond de Andrade. Eu sabia que n�o era. Dirigia uma pe�a no teatro universit�rio e diziam: "Voc� � g�nio". Eu sabia que n�o era. Ent�o, achei o Brasil uma merda igual a mim e falei: "Quero sair deste pa�s". Ali�s, acho at� agora uma merda. Queria sair deste pa�s.

A�, cheguei na faculdade e disse: "Qual � o curso mais r�pido que tem?" "Filosofia e curso de jornalismo." Eu tenho esse curso de jornalismo abomin�vel que voc�s t�m. E fiquei tr�s anos l� e tr�s anos fiquei preparando a minha sa�da do Brasil. Tem gente que n�o precisa sair do Brasil. Carlos Drummond de Andrade n�o precisou sair. Walmir Ayala n�o precisou sair. Tem milh�es de brasileiros geniais que n�o precisaram sair. Eu precisei sair. Consegui uma bolsa para a Espanha e l� fui eu. Cheguei em Madri e comecei a perceber que a minha cabe�a estava igual. Por mais que estudasse l� literatura e arte, por mais que estudasse poesia, por mais que estudasse teatro, por mais que fizesse espet�culos de poesias brasileiras, percebia que a minha cabe�a continuava igual, n�o conseguia descobrir como aumentar o volume da minha cabe�a, era sempre aquilo, eu n�o evolu�a.

A� comecei a tentar me mexer um pouquinho mais. Jovem, furiosamente delicado, falei: "Vou sair de Madri, vou botar a mochila". Porque carona, naquela �poca, era cultura. Ent�o, peguei carona, com um pouquinho de dinheiro no bolso, uma mis�ria, desci pelo sul da Espanha todo, Granada, Sevilha, at� l� embaixo, C�diz. Claro que, levando debaixo do bra�o Rafael Alberti, levando Miguel Hern�ndez, Antonio Machado, Pablo Neruda e um pouquinho de Lorca, que n�o me interessa muito. Uma infelicidade terem matado esse cara, poderia ter feito coisas maravilhosas. Mas, como poeta, realmente, os outros me interessam mais.

A�, eu estava l�, mas minha cabe�a continuava igual, apesar das leituras. Falei: "Vou fazer o norte da �frica por terra, carona". Chego no Marrocos, numa cidade chamada Fez, aquelas mulheres com aquele neg�cio tapando o rosto: "Que cidade � essa? O que � isso? O que essas mulheres querem? Isso � machismo? Isso � capitalismo? Isso � pol�tica? Isso � cultura?" Mesmo as putas estavam com aquilo l�, mas com a bolsinha assim, tal... N�o entendia direito, n�o conseguia entender. Ficava maravilhado com aquilo e disse: "Vou continuar assim, vou seguir pela �frica". Passo pela Arg�lia... Voc� perguntou como cheguei at� aqui, estou contando a minha vida...

Viva Abu!