Odair Jos�, Primeiro e �nico

Odair Jos� lan�ou este ano CD vivo. 18 can��es, entre elas, o cl�ssico "Vou tirar voc� desse lugar".

Odair � um sujeito esquisit�o. Ele ri pouco. Mas v�-se que � boa-pra�a. Tem cara de bandido de velho-oeste. Mas suas m�sicas possuem uma ternura que salta aos olhos. Odair � um remanescente dos tempos em que n�o havia FM, a m�sica popular n�o era t�o diversificada como hoje e o r�tulo ``brega'' sequer existia - em 1972 todo mundo era brega. Mas ningu�m sabia disso.

Sua entrevista no J� Soares Onze e Meia, em 96, foi memor�vel.

Sua hist�ria de vida � curiosa. O jovem Odair foi adotado pela zona paulistana e de l� se lan�ou artisticamente. Ele e seu viol�o j� dormiram pelos banheiros da rodovi�ria de Londres.

Mas o melhor s�o as m�sicas. O J� pede que ele toque algo e ele pega o viol�o, assume aquele ar compenetrado de n�o-riam-porque-�-s�rio e toca. Do fundo do cora��o. A plat�ia ainda ensaia alguns risinhos. O entrevistador tenta inserir piadinhas. Mas � in�til: Odair continua s�rio, mesmo cantando coisas que a maioria s� cantaria de goza��o.

Suas can��es destilam considera��es filos�ficas sobre Deus, a vida, o amor, a paternidade, a solid�o. Cheias de �bvios ris�veis como s� as grandes verdades podem ser. Mas tamb�m falam de garotas de programa, p�lulas anticoncepcionais e empregadas dom�sticas envergonhadas. Tudo numa franqueza admir�vel. Tem o cara que comprou uma revista masculina e encontrou a foto da ex, olha que maldade. Tem o outro que sabe que a garota d� pros amigos dele s� pra fazer ci�me, a ingrata.

Temas machistas? Ing�nuos? Talvez. Mas na boca de Odair ganham ternura e romantismo
insuspeitados. Voc� escuta e pensa: ser� que ele est� falando s�rio mesmo?
Pois, pro seu governo, est�.

Em 1973, com o pol�mico sucesso ``Pare de tomar a p�lula'' (porque ela n�o deixa nosso filho nascer), Odair despontou pro pa�s inteiro, deixando a Igreja incomodada: pro�be ou n�o pro�be o diabo da m�sica? A can��o n�o defendia a anticoncep��o, pelo contr�rio... mas tocava no tema. E isso j� era muito naqueles dias de tantas hipocrisias
oficializadas. Com ``Deixa essa vergonha de lado'' ele se tornou o guru-terror das dom�sticas. Se voc� tem seus 35 anos ou mais talvez lembre de uma certa pol�mica dessa �poca: Odair Jos� ou Caetano Veloso? Parece mentira mas � verdade. Os dois inclusive chegaram a cantar juntos a cl�ssica ``Eu vou tirar voc� desse lugar''. Tempos loucos aqueles!

Nos anos 80 Odair andou esquecido mas nos 90 voltou � tona gra�as a movimentos musicais sat�ricos como Os Necess�rios e a Banda Vexame, que o adotaram como padrinho. Os Tit�s tamb�m declararam seu amor e lhe deram uma m�sica (``Baby''). A partir da� Odair ganhou uma certa aura cult e hoje sua obra bem que merecia ser relida como fizeram com a de
Roberto Carlos. Mas aten��o. Ele n�o � neo-sertanejo de cal�as apertadas. N�o faz o g�nero bonitinho de Daniel nem � raposa velha como Reginaldo Rossi.

Odair � �nico. Mas � um pato desajeitado entre os cisnes da grande m�dia: por isso ela n�o o adota.

A Globo-Universal lan�ou este ano o CD "Odair Jos� ao Vivo",
com 18 can��es. L� est�o velhos sucessos como "Esta noite voc� vai ter que
ser minha", "Que saudade de voc�'", "A noite mais linda do mundo" e "Eu,
voc� e a pra�a". Banda ensaiada, arranjos modernos, plat�ia empolgada. Tem
tamb�m "Vou tirar voc� desse lugar'', claro. Voc� eu n�o sei, mas muita
gente boa j� chorou essa m�sica num cabar�, agarrado numa garrafa de
Dreher. Mas hoje n�o existem mais cabar�s... Tempos estranhos.

"Encostei o meu carro na pra�a e voc�, um tanto sem gra�a, sorriu pra mim"...

Se voc�, meu amigo, � desses que sentem atra��o por esse universo brega pr�-FM, feito de bares de cortininha, radiola com discos arranhados e meninas vindas do interior... ent�o escute Odair.

De prefer�ncia numa dessas noites em que est� de saco cheio dessas mulheres sabidas demais das cidades grandes. Pegue sua bebida, sente ao sof� e entenda a mulher ``oda�rica'': ela certamente trabalha em loja de departamentos, tem um jeito simples, � discreta e honesta. Aborde-a com delicadeza. Ela tem um passado triste nos olhos e aceitar� um drinque com reservas. E amar� voc� do jeito que voc� �. Que, c� pra n�s, meu caro, � o que voc� anda precisando.

O final do texto sobre a meninazinha da loja de departamentos me lembrou a Josy.

Rapida retrospectiva 94:

Estava voltando da faculdade, sentado, isolado, no fundo do onibus, como sempre.
Eram pra lah de 23:30 daquela longa e cansada sexta-feira.

O onibus faz a parada em frente ao Shopping Iguatemi e aquela jovenzinha embarca.
Confesso q nao estava interessado nela, nem a notei na verdade; estava era morto de cansado, quase cochilando e lembrando da prova de compiladores que acabara de fazer.

Ela sentou do meu lado e comecou a puxar conversa com esse elemento que vos relata.

Aos poucos notei que ela era, digamos, bonitinha, com a mesma beleza que o Ricardo Kelmer descreveu nos seus textos.

No final da corrida, ela jah era linda !

Tivemos por assim dizer, um breve relacionamento, eu ia busca-la no Iguatemi depois da
aula (ela trabalhava na sapataria Belem) eu dormia na casa dela; casinha que na verdade nao passava de um quartinho alugado, muito humilde, muito simples, mas tratado com igual carinho e dedicacao.

Ela nos trazia comida aa noite, me preparava surpresinhas com o parco e contado dinheiro que ela tinha e tudo mais. Ficamos juntos 5 meses e acredite, apesar
de dormirmos juntos ela nunca se deixou "influenciar".

Josy me lembrou de uma ingenuidade que, ja naquela epoca, eu ha muito jah me esquecera. A gente se separou nem lembro mais porque...digo...lembro, ela estava pensando em voltar para o interior. E agora nao ha como nao lembrar Gonzagao:

"Quando o verde dos teus olhos/se espalhar na plantacao/nao chores nao, viu?/eu voltarei, viu? ao meu sertao.."

Foi isso...

Hoje refletindo sobre o meu passado vejo as mulheres, boas mulheres, que
passaram por mim. Muitas e a maioria, na verdade, eu nao soube ama-las devidamente ou como deveriam ter sido...mas felizmente aprendi isso com o tempo (Obrigado pelos conselhos, minha mae)

Ela queria apenas amar e ser amada. Coisa que todos querem, coisa que eu parecia
que tinha para lhe oferecer, mas na verdade nao tinha nada. Era um vazio ambulante.

Josy era meiga, simples e ingenua demais, por isso nao fui capaz de compreender aquele amor.

-E
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