O Hemetério me mandou essa. "Eu entendo que se a populacao chega a 1,3 bilhão de almas, tem que comer o que estiver disponivel. Que os ceus nos livrem da fome chinesa!"
Fomos jantar, fizeram o pedido para eu comer algo típico, uma sopa de carne. A sopa veio e o cheiro era extremamente forte, quando eu comi a primeira coisa que falei foi: - Nossa, isso aqui é uma buchada de bode. Deliciosa!! - e estava mesmo
Horas depois falei de como no Brasil também comiamos isso etc e tal.
- ah, lá vocês também comem cachorro?
- como assim cachorro???
e feito windows 95, ali eu travei.
Cada cultura tem pelo menos um tipo de comida que o resto do multo acha repugnante, nojento, estranho. Para citar alguns exemplos: carne de canguru (Austrália), escargot (França), baratas e gafanhotos (Tailândia), carne de cavalo (Cazaquistão) camaleão, buchada e panelada (Brasil). Mas acho que o recorde de esquisitices é batido aqui na Ásia.
Aqui em Cingapura, se come demais escorpião e pênis de boi. Em sopa, claro, para descer melhor. Pode parecer loucura deles, do nosso ponto de vista Asiático, mas na verdade o que há por trás disso é pura e simplesmente uma mistura de mito com um pouco de insensibilidade, alguns diriam ignorância... eu não chego a tanto. Digo que é cultural.
A cada um desses pratos estranhos é atribuído um poder milagroso: se o doutô tá com problema de levantar o negócio, tome uma sopa de pênis de boi. Se está com reumatismo, dor nas costas, coma um escorpião frito. E por aí vai, associando-se a comida com uma fórmula mágica que cura algo. Uma espécia de viagra natural.
Entretando, o que choca não é a comida em si, mas muitas vezes o modo de preparo delas. Tenho vários amigos Chineses aqui e uma opinião quase comum a todos eles eu retrato com uma historinha.
Há mais ou menos um ano o Cirque du Soleil esteve aqui para uma apresentação. No caminho conversando com o taxista:
- vocês estão indo para o circo?
- sim estamos
- eu queria ir, mas não tem nada interessante. não tem bicho, me disseram que é um circo só com gente.
- sim, é verdade. o Cirque du Soleil é mundialmente conhecido pelos seus artistas, e também porque circos com animais são proibidos em vários países.
- é, soube disso também. mas aqui não, chinês gosta de ver leão rugindo, cachorro pulando, elefante rindo.
- é. mas esses animais não estão 'sorrindo', todo dia eles apanham, levam choques elétricos, chicotadas, passam fome...para quando chegar na hora reagirem assim.
- ah..mas quem liga. animal serve para isso mesmo, pra divertir a gente.
Outra, conheço um rapaz que a piada dos amigos era dizer que toda semana ele compra um peixe novo pro aquário dele.
- como assim toda semana?
- porque ele compra na segunda, leva pro escritório (o aquário fica na mesa dele) e brinca com o peixe. mas aí ele não cuida direito do bicho, e o peixe fica a semana sem comer direito, no sábado ou domingo quando ele não está lá o peixe quase sempre morre.
O cidadão em questão interrompe a conversa e diz: - ah...mas aí não tem problema, eu comprou outro e pronto...tudo volta ao normal novamente.
E todos riem e aplaudem, menos eu que não entendo. (Chinês nunca ri somente; em grupo, eles riem e aplaudem uns aos outros).
Essa introdução é para dizer que o que realmente choca é a maneira como o animal é tratado ou preparado.
Por exemplo, na Coréia do Sul eles comem cachorro. Eu mesmo comi sem saber. Mas um cachorro??
Um cachorro é daqueles animais que criam um laço de afeto extremamente forte com a gente, não é a toa que é chamado de 'o melhor amigo do homem'. Você sai de casa 5 minutos e quando volta o cachorrinho vem todo alegre pra ti, balançando o rabo, todo feliz como se não te visse há séculos... Então esse mesmo cachorrinho é morto e feito sopa??? De novo, é chocante mas também...é a cultura deles.
Para os interessados, peguem lápis e papel. Modo de preparo (de como eu escutei, não vi):
- pegue um cachorrinho na idade jovem. Se não tiver um, existem vários mercados; mas prepare o bolso, um cachorro para comer é dos mais caros.
- amarre o cachorro: uma corda em volta na cintura puxando para trás e outra no pescoço puxando para frente.
- pegue um porrete, um bastão, um pedaço de pau ou algo do tipo.
- literalmente 'desça o cacete' nele.
No início o cachorro vai chorar, gemer de dor, dando aqueles latidos finos e agudos. Ignore e mantenha a compostura e as pauladas nele. Em breve a dor que o cachorro sente vai virar raiva, ele vai ficar extremamente violento e tentar loucamente sair das cordas; afinal ele está amarrado e sendo surrado.
Nesse momento entra o 'talento' do 'cozinheiro'. O cachorro está liberando hormônios que vão dar um sabor especial a carne. Dali, mata-se o bicho (por enforcamento, facada, o que preferir), tira-se a pele dele, corte em pedaços e prepare a sopa.
Juro que se soubesse não teria provado. E se soubesse na época como era preparado provavelmente eu teria saído do restaurante. Ou ficado, por respeito aos amigos. Não sei.
Outra iguaria daqui é preparar patos e galinhas; mas diferente, aqui eles enfiam o bicho inteiro num barril de óleo, espera ele morrer ali mesmo e depois pendura para comer. Então o cliente compra o bicho inteiro coloca num prato e voilá...jantar está servido. JAMAIS eu comeria um pato morto na minha mesa com cabeça olho e tudo. Só de imaginar me sinto mal.
Assim como o Vital isso são barreiras culturais a cruzar, não é mesmo ? ou não ?